Assíncrono e Síncrono

A pandemia alterou não só as formas de nos relacionarmos, mas também como o tempo age nas nossas experiências cotidianas.

Assíncrono e Síncrono

Duas novas palavras apareceram no vocabulário de jornalistas, especialistas, gestores e educadores: síncrono e assíncrono. Antes da pandemia, não pensávamos muito sobre o tempo que baseava nossas experiências na educação, no trabalho e na cultura. Até ele mudar radicalmente. O síncrono representa o simultâneo, o experimentar algo juntos, a conexão. Ou talvez a percepção de que isso esteja acontecendo. Fala mais sobre o processo do que sobre o resultado. Já o assíncrono representa a produção em linhas do tempo e fusos diferentes. Ele é mais sobre o resultado do que sobre o processo, por isso, traz muitas questões sobre auto-responsabilidade, domínio de tecnologias e gestão da informação. Por ser mais adaptável, permite mais espaços para introspecção. Hoje vemos o síncrono e o assíncrono atualizando a base de nossas vidas: a educação, que até então era principalmente síncrona, ao vivo e na sala de aula, se desloca para aulas gravadas que podem ser consumidas individualmente. O trabalho, que acontecia, não apenas nas tarefas em si, mas também na troca com quem sentava ao lado, foi compartimentado para funcionar em um fluxos mais individualizados, com foco nas entregas. Já o entretenimento está sendo povoado por lives, que tentam emular a sincronicidade das emoções dos shows. Falar de síncrono e assíncrono é falar do tempo, mas também de como ele nos atravessa por meio de experiências e provocam nossas emoções, nos alterando e estimulando nossa cognição. É preciso repensar a experiência do trabalho, da educação e da cultura para além das ferramentas que os suportam para que possamos, então, explorar as potências nas mudanças de formato.

Assíncrono
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Hoje, a presença física na sala de aula representa um risco de saúde e as instituições de ensino precisaram migrar, a maioria às pressas, suas aulas para o modalidade EaD. Se as vídeo-aulas entregam a segurança e maleabilidade temporal do assíncrono, será que também garantem a construção do conhecimento que a interação síncrona proporciona?

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Como ultrapassar as novas barreiras levantadas, considerando que grande parte da população brasileira ainda não tem acesso à conexão de internet?  Se a interação se dissolve, se a experiência se individualiza, se mais uma limitação é criada, de que forma os resultados da educação brasileira também vão mudar no curto e médio prazo?

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Falar de sincronicidade é falar de partilha, do tempo e da experiência, que criam relacionamentos entre as pessoas. Ao olhar para a transposição do trabalho, de um formato síncrono para o assíncrono, falamos da transposição das tarefas, mas não das “relações no trabalho”.

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O grande lance é: como redesenhar não apenas a “forma de trabalhar”, mas também as “relações de trabalho” para o modelo assíncrono? Considerando aqui toda a potência que as relações cotidianas têm para estimular a inovação e o desenvolvimento profissional. E de que forma o modelo assíncrono age na percepção das pessoas sobre o próprio trabalho e sobre sua produtividade e mensuração de resultados?

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A cultura organizacional é ponto chave. Ela é o combustível das relações organizacionais e, em momentos de crise, é importantíssima para fortalecer os vínculos e o propósitos individuais dentro da organização.

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Assim, também é preciso pensar como fortalecer a cultura organizacional em um cenário assíncrono e com equipes descentralizadas. Nessa nova realidade, precisamos redesenhar os papéis dos fios condutores que levam a cultura organizacional, pensando aqui nos indivíduos, grupos e lideranças.

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Atualmente, já vemos que o isolamento do trabalho remoto, por ter interrompido a troca interpessoal, causa ansiedade e que as videoconferências podem ocasionar picos de estresse. Com isso em mente, ao redesenhar as relações de trabalho para um novo modelo, as organizações também precisarão pensar nos efeitos dessas mudanças nos colaboradores enquanto indivíduos e atualizar as ações em saúde ocupacional considerando as novas matizes do trabalho e da saúde mental.

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O isolamento interrompeu a sincronicidade do encontro e, com isso, as pessoas começaram a procurar formas de simular digitalmente a emoção da experiência de estar com o outro partilhando o tempo. As festas e os casamentos por Zoom, os movimentos via lives que convidam diversas pessoas cozinharem ao mesmo tempo e os shows por livestreaming são alguns exemplos.

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Nessa esteira, além da educação e do trabalho, a terceira grande esfera da vida que está sob essa tensão é a cultura. Nos últimos dois meses de isolamento, temos acompanhado diversos artistas tentando a live para recriar a sincronicidade do show. E, para tornar o contato mais próximo e entregar mais emoção, vemos artistas fazendo as lives nas mesmas condições que as pessoas estão vivendo: em casa e de pijamas.

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Assim, a pandemia parece ter inaugurado um novo desafio para a cultura. Mais do que adaptar tudo para o formato live, que tenta simular a emoção do contato “da vida real”, será preciso realmente desenhar novas formas de se comunicar, que considerem o contexto atual e o potencial (ainda inexplorado) de relacionamentos mediados pela tecnologia.

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